sexta-feira, 12 de junho de 2009

Palavras



“As palavras têm significados que nem sempre compreendemos”

È tão difícil, depois de tantos anos vasculhar os escombros da infância e buscar ali incrustado nas paredes caídas e arruinadas pelo tempo o baú de minhas lembranças de criança. Lembro que meu pai sempre dizia que me deixaria estudar somente até a quarta série enquanto a minha mãe lutava para que eu prosseguisse, e foi com ela que aprendi as mais belas histórias da minha vida, pois para ela educação era tudo. E com esse propósito aos 6 anos e meio de idade me fez separar deles para trilhar meu próprio caminho. E ali num lugarzinho qualquer, comecei a desvendar um mundo ainda desconhecido, mas que já me fascinava. Como era linda a minha professora! Ensinava com a magia as letras que mais tarde se tornavam palavras e estas por sua vez se transformavam em enredos e teias que se costuravam em textos. Era verdadeiramente um mundo mágico.

Nos finais de semana voltava para a fazenda e ali a pouca luz, minha mãe nos contava histórias de princesas fadas anões era um mundo de fantasias e assim por ela conheci Rapunzel, Branca de Neve, A raposa e o Coelho, A bela adormecida, não via livros em suas mãos e várias outras histórias que só mais tarde vi impresso em livros.

Os anos se passaram, a 5ª série chegou e com isso uma nova metodologia começou eram tantos professores que era impossível contá-los. Mas uma me chamou atenção. Ela tinha um jeito diferente de ensinar. Ensinava com a alma e com o coração. Foi quando me apresentou A Cabana de Pai Tomás, não me lembro quem era o escritor, mas a história ainda invade a minha alma sempre que lembro daquele escravo segurando os cachinhos louros da menina que ele ajudara a criar. Passei por vários mundos e descobri o Escaravelho do Diabo, O Estudante, A Ilha Perdida, o Menino do Dedo Verde, menino de Asas, A teoria dos Meninos Pelados, Barcos de Papel, li e reli muitas vezes chorei, com Sozinha no Mundo. Meu Nome é Esperança e Um Girassol na Janela.
Deliciava com essas e fazia delas minha história. Na época em que não havia mesa redonda nós sentávamos para falar, conversar e escrever sobre essas histórias fantásticas. Não me recordo de freqüentar a biblioteca, não sei onde a professora escolhia os livros, mas sei que eles chegaram até mim. Eram noites em claro aprendendo a decifrar mistérios e me encantar com a facilidade com que os fazedores de textos teciam e tiravam do cotidiano, histórias tão belas que se tornavam o meu mundo e eu o mundo delas. Vivia embriagada das palavras. Mas apesar disso, a matéria que mais gostava era matemática, não tinha orações subordinadas e nem as coordenadas, mas o delta era a minha alegria. Como era bom estudar matemática com aquela professora. Tudo parecia fácil!
Não compreendia como um menos se torna mais, mas adorava estudar os gráficos, os produtos cartesianos... ah, isso me completava. E foi por ela que descobrir que poderia ir mais além e descortinar o mundo novo através do conhecimento. E finalmente cheguei ao ensino médio com o entusiasmo de quem acabava de começar. Queria continuar e aprimorar o que eu aprendi anteriormente. Tinha sede de conhecimento e estava ávida por novas aventuras.
Então vislumbrei minhas primeiras desilusões, pois os professores não eram os mesmos, não tinham o mesmo entusiasmo, não davam o respeito que a profissão merece. Vasculho os destroços do ensino médio para ver se sobra algum que mereça ser lembrado por mim, mas por incrível que pareça não encontro nenhum. A paixão por matemática acabou, pois conheci um conteúdo primitivo e sem magia. Literatura não existia, foi um período em que me distanciei dos livros e conheci a realidade dura de um ambiente sem motivação e sem vontade de se dar.
Apesar disso ainda conheci escritores como Machado de Assis, Visconde de Taunay, José de Alencar, mas que sentido faria isso tudo na minha vida não tinha ninguém pra partilhar e então comecei a escrever diários, alguns guardados até hoje em algum lugar da minha casa. A frustração era tão grande que pensei em desistir e voltar para casa, mas controlei meus impulsos e segui o meu caminho.
A inquietude que tomara conta do meu coração me acompanhou até o ensino superior que também me deixou frustrada. Não era exatamente o que eu queria. Eu queria mais, mas ir buscar onde, pois não tinha quem oferecesse. Cursei os dois primeiros anos da faculdade sem querer, sem vontade, em mim havia uma revolta porque meus sonhos de criança de alçar vôos, desbravar novos caminhos, continuavam emperrados pelos currículos chatos e professores despreparados para ministrá-los. Tratavam-nos como alunos de ensino médio e não como futuros professores - pesquisadores. Novamente pensei em parar, voltar depois, mas por covardia continuei. Mas a literatura corria em minhas veias como sangue quente que dá vida a imaginação de quem está apenas dormindo e com algum estímulo começa novamente a circular a todo vapor. Então conheci Graciliano Ramos, Raquel de Queiroz, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Machado de Assis e o outros .
E assim construindo castelos sejam em sonhos e ou em areia continuo a vida lendo e relendo história de ontem e de hoje.

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